NITROGÊNIO EM
EFLUENTES
Atualmente há uma grande preocupação com
a preservação ambiental, principalmente em relação ao destino de efluentes
aquosos industriais contendo compostos orgânicos, como por exemplo, os
compostos de nitrogênio.
O nitrogênio está presente em águas
residuárias sob quatro formas, que são o nitrogênio amoniacal, nitrogênio
orgânico, nitrito e nitrato. Em águas residuárias domésticas, o nitrogênio está
presente principalmente como nitrogênio amoniacal (em torno de 60%) e
nitrogênio orgânico (em torno de 40%). Nitrito e nitrato ocorrem em pequenas
quantidades, que representam menos de 1% do nitrogênio total, uma vez o esgoto
doméstico não apresenta quantidade de oxigênio dissolvido suficiente à ação das
bactérias nitrificantes.
Amônia e nitrato são os mais problemáticos compostos
nitrogenados nas águas residuárias industriais. Amônia em efluente industrial é
normalmente eliminada por nitrificação, que é realizada pela completa oxidação
da amônia em nitrato. Assim, a remoção de nitrato destes tipos de produtos industriais águas residuais
é um passo inevitável no tratamento.
Para se atingir os limites de emissão de nitrogênio estabelecidos na
legislação, evitando assim os riscos de contaminação que estes compostos
representam, o tratamento de efluentes contendo elevadas concentrações de
nitrogênio, conforme os exemplos acima mencionados, ainda é um desafio
tecnológico.
PROCESSOS
ELETROQUÍMICOS
A
eletroquímica refere-se a fenômenos químicos associados à transferência de
elétrons, que podem ocorrer homogeneamente em solução, ou heterogeneamente na superfície
do eletrodo. Processos eletródicos envolvem reações químicas com transferência
de cargas (elétrons), através da interface de uma fase condutora (eletrodo),
uma fase contígua (dupla camada elétrica) e uma fase adjacente (geralmente,
solução). Na região de interface, a distribuição de carga difere daquela no
interior da solução. Esse sistema eletroquímico é basicamente formado por
solvente, eletrólito de suporte, substância eletroativa e eletrodos. A
combinação dos vários componentes influi decisivamente no desenvolvimento da
reação eletroquímica, principalmente no tocante à dupla camada elétrica (camada
de pequena espessura, poucos Angstroms, na proximidade dos eletrodos.
O
eletrodo pode atuar como doador (para a redução) ou receptor (para a oxidação)
de elétrons transferidos para ou de espécies em solução1. Para uma redução, há
um conteúdo energético mínimo de que devem dispor os elétrons a serem
transferidos, antes que a transferência ocorra. Há necessidade de similaridade
energética e simetria favorável dos orbitais envolvidos na transferência eletrônica.
O comportamento dos elétrons em eletrodos metálicos pode ser compreendido, em
parte, pela análise do nível energético de Fermi (EF). Os elétrons atingem a
sua máxima deslocalização possível em metais; muitas vezes, eles são exemplificados
como elétrons que praticamente flutuam em um mar sobre cargas positivas. Nos
metais toda a condução eletrônica é essencialmente equivalente, pois os
elétrons podem trocar de lugar um com o outro. No entanto, eles não têm a mesma
energia, devido à limitação da mecânica quântica que diz que dois elétrons de
um mesmo sistema (nesse caso o metal) não podem ter o mesmo conjunto de números
quânticos.
Processos eletroquímicos vêm sido estudados
cada vez mais para o tratamento de efluentes aquosos. Algumas das vantagens do
tratamento eletroquímico são: sua facilidade de operação e automação,
utilização do elétron como reagente, uso do catalisador na forma de revestimento
de eletrodos metálicos e formação de espécies reativas na superfície do
eletrodo, fornecendo uma alternativa promissora aos métodos tradicionais.
ELETROQUÍMICA
APLICADA A EFLUENTES
A engenharia eletroquímica oferece uma alternativa
para o tratamento de efluentes contendo compostos orgânicos através de reações
redox, sem geração de lodo.
A oxidação eletroquímica de compostos poluentes
consiste na eletrólise do efluente. Durante a eletrólise ocorre a transferência
de elétrons entre o composto poluente e o eletrodo e através desta
transferência ocorrem reações do tipo redox que transformam o composto poluente
em produtos menos letais à saúde e poucos agressivos ao meio ambiente.
TRATAMENTOS
BIOLÓGICOS DE EFLUENTES
O tratamento convencional para remoção de compostos
nitrogenados em efluentes industriais é o tratamento biológico. Para se atingir
os limites de emissão de nitrogênio estabelecidos na legislação, evitando assim
os riscos de contaminação que estes compostos representam, o tratamento de
efluentes contendo elevadas concentrações de nitrogênio, conforme os exemplos
acima mencionados, ainda é um desafio tecnológico. As alternativas tecnológicas
mais usuais para o tratamento biológico do nitrogênio lançam mão dos processos
de nitrificação e desnitrificação.
O processo de lodos ativados pode ser concebido para
remover nitrogênio através do desenvolvimento de duas etapas biológicas
sucessivas: nitrificação e desnitrificação, sendo que a
tradicional remoção de nitrogênio por via microbiana está baseada em nitrificação
autotrófica e desnitrificação heterotrófica.
No primeiro estágio, o da nitrificação, o nitrogênio
orgânico e o amoniacal (NH4+) são oxidados a nitrito (NO2–)
e nitrato (NO3–) através das bactérias nitrificantes, na presença de
oxigênio. Num segundo estágio, a desnitrificação, o nitrato é reduzido a N2
através das bactérias heterotróficas desnitrificantes, na ausência de oxigênio
livre (condições anóxicas) e na presença de uma fonte de carbono.
Novos processos de remoção de nitrogênio têm sido desenvolvidos
nos últimos anos, para possibilitar a remoção de elevadas concentrações de
nitrogênio por via biológica.
REMOÇÃO
BIOELETROQUÍMICA DE COMPOSTOS NITROGENADOS
Baseando-se em estudos anteriores sobre métodos
eletroquímicos aplicados em tratamento de efluentes e conhecendo como o
nitrogênio está presente em diversas formas nesses poluentes, novas técnicas
vem surgindo como um aperfeiçoamento dos métodos existentes. Alguns trabalhos
recentes utilizam-se dos processos eletroquímicos, associados aos tratamentos
biológicos de efluentes, de forma a verificar a possibilidade de melhora na
qualidade do efluente, denominados então de tratamentos bioeletroquímicos.
Alguns estudos investigaram a viabilidade de um processo bioeletroquímico para a
nitrificação e desnitrificação simultânea em um único reator. O reator constou
de eletrodos anódico e catódico, na qual os biofilmes nitrificantes e
desnitrificantes, respectivamente, foram ajustados. Foram examinados efeitos da
aplicação de corrente elétrica e concentração de oxigênio dissolvido (OD) na
solução do solo. A remoção nitrogênio total (NT) pode ser alcançada através da
ocorrência de nitrificação e desnitrificação anódica e catódica no biofilme,
respectivamente. Ambas as taxas de nitrificação e desnitrificação aumentaram
com o aumento da corrente elétrica aplicada. Mesmo em baixa concentração de OD
na solução do solo, a nitrificação procedeu a uma alta taxa de utilização de
oxigênio gerado no ânodo. A taxa de desnitrificação manteve-se relativamente
elevada em alta concentração de OD devido ao fornecimento de gás hidrogênio
para o interior do biofilme catódico. A maior taxa de remoção NT tendeu a ser
obtida com a menor concentração de OD e maior densidade de corrente. A partir
desses resultados, concluiu-se que o processo bioeletroquímico é aplicável à
nitrificação e desnitrificação simultânea, devido à formação estável de regiões
aeróbias e anóxicas no reator.
Diversos são os métodos relatados para remover o nitrato da água de
corpos d’água, que quase não se trata exclusivamente de nitrato, exceto a
desnitrificação biológica que é capaz de reduzir compostos de nitrato
inorgânico para gás nitrogênio. Uma revisão dos diversos estudos de
desnitrificação biológica em águas contendo nitrato, águas residuárias e
efluentes da aquicultura confirmaram o potencial deste método e sua
flexibilidade em relação à recuperação de diferentes concentrações de nitrato.
O desnitrificantes podem ser alimentados com substratos orgânicos e
inorgânicos, que têm desempenhos diferentes e vantagens ou desvantagens
subseqüentes. Comparando desnitrificações autotróficas e heterotrófcas com
diferentes fontes de energia e de carbono, concluiu-se que os desnitrificantes
autotróficos são mais eficazes na desnitrificação. Os organismos autotróficos
utilizam o dióxido de carbono e hidrogênio como fonte de carbono e doadores de
elétrons, respectivamente. A aplicação deste método em bioeletrorreatores (BER)
tem muitas vantagens e é promissor. No entanto, este método não é tão bem
estabelecido e documentado. BER oferecem ambiente adequado para produção de
hidrogênio simultânea nos cátodos e consumo adequado pelos autotróficos
imobilizados sobre estes cátodos. Esse levantamento abrange vários projetos e
aspectos de BER e os seus desempenhos.
Outro parâmetro em estudo é a produção de hidrogênio
durante o processo bioeletroquímico para auxiliar na redução do nitrogênio
nitrato em gás hidrogênio. Segundo Zhang et
al., (2005) a desnitrificação biológica efetuada por meio da por energia
elétrica teria que ser realizada, teoricamente, através da produção de
hidrogênio in situ sobre a superfície
do cátodo (não sobre a superfície do ânodo). Hidrogênio e um baixo potencial de
oxi-redução (ORP) ambiente produzido através da reação catódica seria utilizado
por hidrogenotróficos para reduzir nitrogênio nitrato em gás nitrogênio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos das aplicações de técnicas
bioeletroquímicas para o tratamento de efluentes são recentes e existem poucos
trabalhos publicados nesta área do conhecimento. No entanto, segundo os autores
citados, esta técnica é promissora para remoção do nitrogênio de águas
residuárias, melhorando a qualidade do efluente final. Observa-se a necessidade
de continuar os estudos nesta área, a fim de determinar e otimizar os
parâmetros para aumentar a eficiência deste processo.
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Este texto foi elaborado pela autora, baseada nas referencias acima, se desejar reproduzi-lo, cite a fonte.
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