segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mais um cara brilhante morreu: Celso Blues Boy



O cantor Celso Blues Boy morreu na manhã desta segunda-feira (6) em Joinville, no Norte de Santa Catarina. Segundo a central funerária de Joinville, o músico faleceu às 8h50. O corpo já foi encaminhado para Blumenau para ser cremado. O músico tinha 56 anos e sofria câncer de garganta. Blues Boy era cantor, compositor e guitarrista.

Celso Ricardo Furtado de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em janeiro de 1956. Na década de 1970, com apenas 17 anos, começou a tocar profissionalmente com Raul Seixas, além de acompanhar nome da MPB como Sá & Guarabira e Luiz Melodia. Seu nome artístico é uma homenagem ao seu ídolo B.B. King, com quem chegou a tocar na década de 1980.

O vascaíno foi guitarrista das bandas Legião Estrangeira e Aero Blues, considerado o primeiro grupo de blues do Brasil. Em 1980 passou a ser mais conhecido, quando mandou uma fita para a Rádio Fluminense, no Rio, voltada para o repertório roqueiro. Quatro anos depois gravou seu primeiro disco, 'Som na Guitarra', que inclui seu maior sucesso: 'Aumenta que Isso Aí É Rock'n Roll'.

No ano passado, Celso Blues Boy gravou seu primeiro DVD, 'Celso Blues Boy ao Vivo', no Circo Voador, no Rio de Janeiro, que também foi lançado em CD. O cantor morava há 12 anos em Joinville.


Biografia:




Não são muitos os artistas que podem se gabar de ter criado uma linguagem musical. Robert Johnson, Frank Sinatra, Chuck Berry, Elvis, Hendrix, Marvin Gaye, Miles Davis, os Beatles, Kraftwerk, Black Sabbath, Ramones, o Faith No More - a lista não avança muito a partir daí. Nesse seleto grupo de excepcionais, Celso Blues Boy arruma uma vaguinha por ter dado um sotaque brasileiro ao blues, um gênero americano (ou africano, em suas raízes mais profundas) por excelência, e com ele feito sucesso avassalador ao ponto de ser, ao mesmo tempo, lenda, ídolo e referência, ainda mais quando o papo recai sobre aquele instrumento de seis cordas chamado guitarra.

Exagero? Nada. Erro seria desprezar sua contribuição para a música brasileira. Os gringos o reconheceram: a revista Backstage colocou Celso entre os 20 maiores guitarristas da história; BB King, expressão máxima do blues, o reverenciou ao dividir palcos e estúdio com ele e o convidar para fazer carreira nos EUA; tocou no célebre Festival de Montreaux, na Suíça; The Commitments, a banda do filme cult de Alan Parker, chamou Blues Boy para se integrar a ela (e ele gentilmente recusou). Se Celso não foi alçado ao mesmo patamar glorioso de Tom Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso e outras sumidades nacionais, não cabe aqui buscar explicações.

Fato é que Celso vem fazendo história desde a metade dos anos 70. Com apenas 17 anos, por exemplo, integrou o grupo de Raul Seixas. Acompanhou uma penca de veneráveis nomes da MPB (Renato e Seus Blue Caps, Sá & Guarabira, Luiz Melodia...) e arregimentou fãs ao empunhar a guitarra nas bandas Legião Estrangeira e Aero Blues, considerado o primeiro grupo de blues do Brasil e dono de performances memoráveis na lendária casa de shows Apa Loosa, no Rio de Janeiro.

Esses mesmos fãs viram Celso galgar os degraus da fama nos anos 80. Sua estréia solo, em 1984, com "Som na Guitarra", é um clássico absoluto, não só pelos hits que contém ("Aumenta que isso aí é rock'n'roll", "Blues Motel"), mas por espalhar aos quatro cantos do país a notícia de que havia bom blues sendo feito no Brasil. Junte isso ao talento nas seis cordas, a voz rouca, a boa aparência e canções de qualidade e se tem um astro instantâneo. Foi o que aconteceu.

A década de 80 foi mesmo pródiga para o guitarrista - é dessa época outros hits como "Marginal" (ao lado de Cazuza), "Damas da Noite", "Tempos Difíceis", "Fumando na Escuridão", "Sempre Brilhará" e as trilhas de "Rock Estrela" e "Bete Balanço" -, tanto que ele está entre os artistas-símbolo do período. Mas jamais ficou restrito a ele. Tanto é que foi na década de 90 que ele gravou o excepcional "Vivo" no Circo Voador (RJ). Foi também quando passou a se apresentar regularmente na Europa, virou amigo de BB King - a quem homenageia no nome artístico e que empresta seu toque único a "Mississipi", faixa do álbum "Indiana Blues", de 95 - e recebeu o convite para integrar os Commitments. Isso sem falar na agenda lotada de shows pelo Brasil.

Vale um aparte para a participação de Celso no Festival de Montreaux, na Suíça, em 1995. Seu apartamento ficava em frente ao lendário The Duke's, bar onde todas as feras do evento fazem questão de dar canjas.

Nos anos 2000, Celso Blues Boy segue incansável na estrada, de aeroporto em aeroporto, pelos palcos afora. Nessas idas e vindas, foi parar novamente no Circo Voador, sem dúvida, seu lar fora de Joinville (SC), onde mora há 12 anos. Foi ali, naquele espaço lendário, que gravou no ano passado "Celso Blues Boy ao Vivo", seu primeiro DVD (também lançado em CD pela Penedo Produções). Diante de uma platéia entusiasmada, ele desfila suas músicas mais conhecidas com a classe, a garra e a emoção típicas de quem entrega aos fãs bem mais do que eles pedem.

Se o DVD/CD é a prova física do talento grandioso de Celso e da qualidade de sua obra, o show de lançamento do produto foi à amostra definitiva de seu carisma. No dia 1 de abril, ele lotou o Canecão, numa festa inesquecível.

É a demonstração de que, mesmo após três décadas de carreira, a história de Celso Blues Boy continua sendo traçada e contada. E, volta e meia, com superlativos coerentes com seu talento.





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