Introdução
A grande diversidade das atividades industriais
ocasiona durante o processo produtivo, a geração de efluentes, os quais podem
poluir/contaminar o solo e a água, sendo preciso observar que nem todas as
indústrias geram efluentes com poder impactante nesses dois ambientes. Em um
primeiro momento, é possível imaginar serem simples os procedimentos e
atividades de controle de cada tipo de efluente na indústria. Todavia, as
diferentes composições físicas, químicas e biológicas, as variações de volumes
gerados em relação ao tempo de duração do processo produtivo, a potencialidade
de toxicidade e os diversos pontos de geração na mesma unidade de processamento
recomendam que os efluentes sejam caracterizados, quantificados e tratados e/ou
acondicionados, adequadamente, antes da disposição final no meio ambiente.
Os Efluentes Industriais
De acordo com a Norma Brasileira — NBR
9800/1987, efluente líquido industrial é o despejo líquido proveniente do
estabelecimento industrial, compreendendo emanações de processo industrial,
águas de refrigeração poluídas, águas pluviais poluídas e esgoto doméstico. Por
muito tempo não existiu a preocupação de caracterizar a geração de efluentes
líquidos industriais e de avaliar seus impactos no meio ambiente. No entanto, a
legislação vigente e a conscientização ambiental fazem com que algumas indústrias
desenvolvam atividades para quantificar a vazão e determinar a composição dos
efluentes industriais.
Características Dos Efluentes Industriais
As características físicas, químicas e
biológicas dos efluentes líquidos sanitários e industriais variam quantitativa
e qualitativamente em função do tipo de utilização da água na fonte de
poluição. As principais características são:
Sólidos
em suspensão: resíduo que permanece num filtro de asbesto após filtragem da
amostra. Podem ser divididos em:
Sólidos sedimentáveis: sedimentam após um
período t de repouso da amostra
Sólidos não sedimentáveis: somente podem ser
removidos por processos de coagulação, floculação e decantação.
Sólidos
dissolvidos: material que passa através do filtro. Representam a matéria em
solução ou em estado coloidal presente na amostra de efluente.
Temperatura: é um parâmetro importante devido
aos danos que pode causar às espécies de peixes, pois a solubilidade do
oxigênio na água diminui com o aumento da temperatura.
Cor:
provocada por corantes orgânicos e inorgânicos, pode provocar grande impacto
visual nos cursos d'água.
pH: seu
controle é importante tanto para o lançamento em corpos d'água receptores como
para o tratamento dos efluentes.
Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO): indica a quantidade de matéria orgânica que pode
ser biologicamente degradada presente no efluente. É um importante parâmetro
utilizado no controle da poluição e comumente a concentração de DBO é
referenciada como sendo a carga orgânica do efluente.
Demanda
Química de Oxigênio (DQO): Indica a quantidade de matéria orgânica
biodegradável e não biodegradável presente no efluente. Como a DBO, também é um
importante parâmetro de controle da poluição , sendo que uma DQO elevada pode
indicar a presença de compostos tóxicos no efluente.
Detergentes: são os agentes surfactantes
presentes em sabões e detergentes, que causam espuma e contribuem para a
elevação dos níveis de nitrogênio e fósforo nas coleções de água.
Óleos e
graxas: parâmetro que indica a presença de óleos minerais, óleos vegetais ou
gorduras animais no efluente.
Compostos tóxicos: amônia, arsênico, cianetos,
fenóis, nitritos, etc. Seu controle é importante devido à toxicidade aos
organismos aquáticos e aos homens.
Metais
pesados: cromo, chumbo, mercúrio, cádmio, zinco, etc.O controle de metais
pesados nas águas é extremamente importante, principalmente devido ao seu
caráter cumulativo na cadeia alimentar e ao potencial de desenvolvimento de
doenças crônicas no homem.
Características biológicas: relacionadas à
presença de microorganismos no efluente, tais como bactérias, protozoários,
fungos e vírus.
As características físicas, químicas e
biológicas do efluente industrial são variáveis com o tipo de indústria, com o
período de operação, com a matéria-prima utilizada, com a reutilização de água
etc. Com isso, o efluente líquido pode ser solúvel ou com sólidos em suspensão,
com ou sem coloração, orgânico ou inorgânico, com temperatura baixa ou elevada.
Entre as determinações mais comuns para caracterizar a massa líquida estão as
determinações físicas (temperatura, cor, turbidez, sólidos etc.), as químicas
(pH, alcalinidade, teor de matéria orgânica, metais etc.) e as biológicas
(bactérias, protozoários, vírus etc.).
O conhecimento da vazão e da composição do
efluente industrial possibilita a determinação das cargas de poluição /
contaminação, o que é fundamental para definir o tipo de tratamento, avaliar o
enquadramento na legislação ambiental e estimar a capacidade de autodepuração
do corpo receptor. Desse modo, é preciso quantificar e caracterizar os
efluentes, para evitar danos ambientais, demandas legais e prejuízos para a
imagem da indústria junto à sociedade.
Alternativas de tratamento
A prevenção à poluição refere-se a qualquer
prática que vise a redução e/ou eliminação, seja em volume, concentração ou
toxicidade, das cargas poluentes na própria fonte geradora. Inclui modificações
nos equipamentos, processos ou procedimentos, reformulação ou replanejamento de
produtos e substituição de matérias-primas e substâncias tóxicas que resultem
na melhoria da qualidade ambiental.
Qualquer que seja a solução adotada para o
lançamento dos resíduos originados no processo produtivo ou na limpeza das
instalações, é fundamental que a indústria disponha de sistema para tratamento
ou condicionamento desses materiais residuais. Para isso é preciso que sejam
respondidas algumas perguntas, como:
a) Qual o volume e composição dos resíduos
gerados?
b) Esses resíduos podem ser reutilizados na
própria indústria?
c) Esse material pode ser reciclado e
comercializado?
d) Quanto custa coletar, transportar e tratar
esses resíduos ?
e) Existe local adequado para destino final
desses resíduos ?
Processos de Tratamento
Os processos de tratamento utilizados são classificados
de acordo com princípios físicos, químicos e biológicos:
Processos físicos: dependem das propriedades
físicas do contaminante tais como, tamanho de partícula, peso específico,
viscosidade, etc.
Exemplos: gradeamento, sedimentação, filtração,
flotação, regularização/equalização, etc.
Processos químicos: dependem das propriedades
químicas dos contaminantes o das propriedades químicas dos reagentes
incorporados. Exemplos: coagulação, precipitação, troca iônica, oxidação,
neutralização, osmose reversa, ultrafiltração.
Processos biológicos: utilizam reações
bioquímicas para a eliminação dos contaminantes solúveis ou coloidais. Podem
ser anaeróbicos ou aeróbicos.
Exemplo: lodos ativados, lagoas aereadas,
biodiscos (RBC), filtro percolador, valas de oxidação, reatores sequenciais
discontinuos (SBR).
O tratamento físico-químico apresenta maiores
custos, em razão da necessidade de aquisição, transporte, armazenamento e
aplicação dos produtos químicos. No entanto, é a opção mais indicada nas
indústrias que geram resíduos líquidos tóxicos, inorgânicos ou orgânicos não
biodegradáveis.
Normalmente, o tratamento biológico é menos
dispendioso, baseando-se na ação metabólica de microrganismos, especialmente
bactérias, que estabilizam o material orgânico biodegradável em reatores
compactos e com ambiente controlado. No ambiente aeróbio são utilizados
equipamentos eletro-mecânicos para fornecimento de oxigênio utilizado pelos
microrganismos, o que não é preciso quando o tratamento ocorre em ambiente
anaeróbio.
Apesar da maior eficiência dos processos aeróbios
em relação aos processos anaeróbios, o consumo de energia elétrica, o maior
número de unidades, a maior produção de lodo e a operação mais trabalhosa
justificam, cada vez mais, a utilização de processos anaeróbios. Assim, em
algumas estações de tratamento de resíduos líquidos industriais estão sendo
implantadas as seguintes combinações:
·
unidades anaeróbias seguidas por unidades aeróbias;
·
unidades anaeróbias seguidas de unidades físico-químicas.
Impacto Ambiental
Na implantação e operação de indústrias, é
importante considerar que a utilização das potencialidades advindas dos
recursos hídricos (energia, transporte, matéria-prima etc.) é um benefício
inquestionável e único, mas precisa ser acompanhada do uso racional da água,
sendo por isso fundamentais a redução e o controle do lançamento de efluentes
industriais no meio ambiente, como uma das formas de cooperação e participação
no desenvolvimento sustentável. Cabe ao setor industrial a responsabilidade de
minimizar ou evitar que o processo produtivo acarrete em impactos ambientais.
O lançamento indevido de efluentes industriais
de diferentes fontes ocasiona modificações nas características do solo e da
água, podendo poluir ou contaminar o meio ambiente. A poluição ocorre quando
esses efluentes modificam o aspecto estético, a composição ou a forma do meio
físico, enquanto o meio é considerado contaminado quando existir a mínima
ameaça à saúde de homens, plantas e animais.
Referências